quarta-feira, 3 de agosto de 2011

CAMINHAR

Quando caminho, peço a Deus que a terra passe para mim, fecundidade, bondade, verdade, paz, serenidade, confiança e simplicidade.
Quando caminho, procuro ter o corpo reto, na direção do céu, e os olhos na direção do infinito.
Peço a Deus que o céu desça sobre mim, e que o infinito me atraia sempre, na dimensão da beleza, da liberdade e do amor.
Quando caminho, procuro abrir o meu ser à liberdade do vento, à liberdade do espaço, à inspiração de Deus. O vento se renova no espírito incessante, o peito se abre no sopro da vida. Caminhar na terra encantada e feliz me faz sentir acolhido e feliz.
Quando caminho, meu corpo volta-se para a frente, meu presente é um presente com fut uro, me faço ação, ação de esperança, acreditar vivo, confiança.
Quando caminho, sinto-me acolhido pela terra que me sustenta. Todas as minhas tensões e energias reprimidas vão descendo da cabeça até aos pés e dos pés se integram no grande amor da terra mãe. À medida que os pés fazem caminho, também a terra generosa vai caminhando dentro de nós, mexendo com tudo, movendo tudo, dando condição de reorganizar tudo, projetos, pensamentos, respostas a desafios, alegrias, vivências, iluminando tudo, tornando-se o nosso ser mais livre.
Caminhar é assumir a própria vida como sua, é tornar-se responsável por si mesmo. Sobre os meus pés está a minha história, pés tímidos, pés cansados, pés resistentes, pés quebrados, pés firmes no caminhar, pés que fazem caminho assumindo ser. Sobre os nossos pés está a nossa
história, pesada ou leve, simples ou complicada. No caminhar se assume a própria história.
Para ir mais além, é preciso aprender a caminhar sobre as próprias pernas. Somente caminhando torno-me capaz de caminhar; somente caminhando me faço caminho.
É preciso caminhar. Quem não caminha corre o risco de se transformar numa estátua de sal: amarga, fria, morta.
Caminhar na terra é caminhar dentro de nós mesmos. Nosso corpo é como um universo deitado no chão. No caminhar o nosso corpo vibra. Tudo mexe dentro de nós. Os pés que se assentam no chão, caminham dentro de nós. Mexem dentro de nós os sentimentos, as emoções, as idéias, os afetos, os problemas, os desafios. Mexem nossa alma e nosso espírito.
Caminhar é ir ao encontro. No meio do caminho, ou no fim, tem algo, tem alguém.
Quem está vivo caminha cada dia, só os mortos não caminham: não têm sonhos, desejos, insatisfação e energias para caminhar. Caminhar é viver.
Quem caminha sabe que um dia se conquista a seguir ao outro, que passo a passo se faz um grande caminho e que com o pé no chão se faz morada nesta terra e se chega ao infinito.
As marcas dos nossos pés são apagadas pelo vento, para que não fiquemos presos ao passado. Caminhamos com as memórias curadas pelo perdão do amor, atraídos pelos valores da utopia de nossa vida, horizontes de esperança de nossa vida. Faz uma grande viagem quem tem as memórias curadas pela experiência do amor, do afeto e do perdão. O caminhar faz rolar dentro de nós vivências, dando ocasião de acolher, perdoar, integrar e redimir nossas memórias.

Pe. José Luís, CSh